sábado, 16 de abril de 2011

Crítica

Nessas últimas semanas a televisão brasileira trouxe uma série de novidades no campo da dramaturgia. Eu tive a oportunidade de acompanhar algumas delas e decidi fazer uns comentários críticos que não podem ser considerados definitivos, tão somente eu assisti muito pouco dessas novas produções, que estão apenas chegando.
Cordel Encantado, novela da Globo
Sabe quando você assiste uma novela e não se sente idiota? Ultimamente isto tem sido bastante difícil, mas aí veio a nova das seis da Globo. Com a impecável direção de Ricardo Waddington, o texto inteligente e audacioso de Thelma Guedes e Duca Rachid, o talento de um elenco muito bem escalado e entrosado e a tecnologia de cinema (aquela história dos 24 quadros por segundo), a primeira semana de Cordel Encantado foi de encher os olhos do público.
O mais interessante de ressaltar é que se trata de uma trama fantasiosa e montada sob os moldes de uma fábula épica, por que não dizer, um conto de fadas do sertão.
Romance, humor, fantasia, leveza. Tudo o que o telespectador das seis da tarde quer ver.
Não tenho dúvidas em afirmar que será um sucesso de público e crítica.
Morde & Assopra, novela da Globo
Eu tenho a clara sensação de que já vi aquelas histórias sendo contadas antes. Não existe o tom de novidade que uma novela precisa ter para seduzir seu público.
Walcyr Carrasco insiste em escalar alguns atores que não são suficientemente expressivos, como Paulo Vilhena, Sérgio Marone, etc, etc.
O público está cansado dos mesmos personagens e dos textos repetitivos de Carrasco no horário.
Imagino que a novela não enfrentará problemas na audiência, já que as tramas centrais estão bem articuladas. Mateus Solano, Flávia Alessandra, Caio Blat, Marcos Pasquim, Adriana Esteves e Vanessa Giácomo carregam a novela nas costas. Até quando?
Amor e Revolução, novela do SBT
Talvez seja a única produção do gênero que busque “acrescentar” alguma coisa ao povo brasileiro. Não sei se essa é missão de uma novela, que é puro entretenimento, mas vale a colocação.
Trata-se da história do país, mas principalmente de uma história de amor nos anos de chumbo da ditadura. Para quem entende de teledramaturgia, algo semelhante a Anos Rebeldes, da Globo.
A questão é que essa aí foi feita em 1992, quando ainda havia ecos da ditadura e pouca liberdade para o autor Gilberto Braga. Hoje é diferente. Tiago Santiago, que traz no currículo a risível Mutantes, da Record, é o responsável por Amor e Revolução e está livre para bancar qualquer conteúdo político e mesmo cenas de tortura e violência. Se é para ser uma história coerente, o SBT e Tiago têm mesmo que arriscar e ousar.

A eleição de Dilma Rousseff, uma ex-guerrilheira, fez a novela aparecer no momento certo. Afinal, o brasileiro precisa dar de cara com sua história.
Assisti à primeira semana e não gostei do que vi.
Apesar de relembrar todos esses momentos, Tiago supõe em seu texto que o brasileiro não conhece o mínimo de sua história, ou seja, apresenta os personagens e o contexto como um livro de história da 4ª série, com o nível lá embaixo. Espero que com o tempo, a trama possa evoluir.

Outro ponto interessante é a direção da novela. O trabalho não me parece ser o mais bem feito, tanto que muitos atores parecem desconfortáveis em cena. Além disso, as cenas de ação, trocas de tiros e violência são no mínimo toscas.
Se era pra fazer uma novela que marcasse a história da teledramaturgia, custaria muito mais caro um investimento em direção e pessoal capacitado para transformar esse tipo de cena em algo verossímil?
Apesar de tudo não gostaria de destacar só os pontos negativos...
O horário é muito bom, o tema é o melhor possível para o momento e existe um potencial muito grande, basta virar realidade.
Rebelde, novela da Record.
Falta muito para a emissora paulistana chegar perto do padrão de qualidade que o público sente prazer em ver, que não é, necessariamente, o padrão Globo.
A Record peca em elementos fundamentais de uma boa trama: diálogos mal formulados, texto espalhafatoso e atores mal conduzidos.
Rebelde é só mais uma mostra disso.
Elenco eficiente, que deve levar a novela até o final sem grandes problemas, mas também sem grandes surpresas, o que é a chave da desventura.
A Record trouxe, há alguns anos, uma proposta muito boa de fornecer alternativa de entretenimento em televisão, mas a decepção aumenta cada vez mais.
Alguns atores que deixaram a Globo por essa oportunidade na Record estão, aos poucos, voltando para casa. Exemplos de Gabriel Braga Nunes, Lavínia Vlasak, Tuca Andrada, Petrônio Gontijo, entre outros.
Se a Record não investir logo em autores hábeis e inovadores e em direção moderna pode ver seu barco afundar em pouco tempo.

Batendo Ponto, Tapas e Beijos, Divã e Macho Man, seriados da Globo.
A emissora resolveu apostar em produções novas e faz muito bem. A retirada do ar do Casseta e Planeta foi importante para evitar a ridicularização dos integrantes da trupe que, em sua maioria, são bastante talentosos. Sabe reciclagem?
No lugar do Casseta entrou Tapas e Beijos, estrelada por Andréa Beltrão e Fernanda Torres.
Minha análise é a mesma para Divã, que estreou logo depois com Lilia Cabral protagonizando.
Assisti as duas em sequência e não dei nenhuma risada. Talvez seja uma tentativa da emissora de fugir da estereotipação que alguns seriados acabam tomando, como Toma Lá Dá Cá, que no final da última temporada só tinha personagens-bordão.
São séries mais exigentes intelectualmente, e talvez isso cumule em um eventual insucesso na audiência, mas os textos são bons. Quem acha que vai morrer de rir nas noites de terça-feira está enganado.
Batendo Ponto, por sua vez, é mais divertida. No domingo à noite, pode ser uma boa desestressar e rir com Ingrid Guimarães, Pedro Paulo Rangel e Alexandre Nero. O grande problema é que é um humor muito fácil, os personagens e as piadas são criados para que as pessoas dêem aquelas risadinhas sem graça e pronto, ou seja, o humor é raso, meio óbvio.
Fora isso, não deu audiência, chegou a ficar em 3° lugar no Ibope e não deve ter vida longa no pós-Fantástico.
Macho Man, da dupla Fernanda Young e Alexandre Machado me parece ter vindo para ficar. O personagem principal é feito por Jorge Fernando. É a história de um gay que depois de sofrer um acidente numa boate acaba passando a sentir atração por mulheres, ou seja, se torna um ex-gay, algo que detesta, mas tem que conviver.
A série alternou momentos de humor barato, complexo e escrachado, características do casal de autores e teve grandes momentos. Acho que com o tempo a série tende a melhorar.
É muito bom ver que a televisão brasileira está em busca de sair da mesmice. Sem essa de mais do mesmo, modernizando e melhorando a qualidade da programação.

Por Gabriel Carneiro

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