terça-feira, 12 de abril de 2011

Harmonia em Trítono – Parte 1

Deparei-me com a porta de meu apartamento. Não sabia de onde vinha, apenas tinha a noção de estar voltando. Minha vista estava turva, ou uma neblina negra onipresente bailava em movimentos circulares e absorvia a luz local. Quando movia minha mão, ela se esvaia entre os dedos como que um fluído sedoso.
Consegui achar a fechadura e empurrei a porta, que abriu sem fazer qualquer ruído. Paralisei logo ao adentrar o lar, quando percebi que este estava também inundado com o mar de vapor viscoso. Era dia, porém o ambiente estava escurecido, e tudo só se diferenciava pelos contornos em escala de cinza.
A planta de meu apartamento era conduzida por um corredor que dava acesso a todos os quartos e a suíte, que fica nos fundos. Portanto, quando se entrava pela sala, podia-se ver até o fim de sua extensão. Estava impossível de enxergar o fundo, pois, na metade do corredor, havia um buraco negro de sombras das quais, apenas se destacavam alguns perfis de objetos metálicos.
Continuava petrificado naquele silêncio. Eu queria sair correndo, mas temia virar e me deparar com algo pior, ou dar as costas para aquele obscuro cenário. Dava para ouvir o bater de meu coração, que palpitava a ponto de senti-lo reverberando na garganta. E isso perdurou até começar o chiado.
Uma silhueta feminina se aproximava lentamente, curvada, com os braços praticamente pendurados no corpo. Não era possível ainda distinguir cores, apenas um contorno que vinha arrastando os pés, fazendo um chiado leve como o de uma folha de papel sendo arrastada lentamente pelo chão.
À medida que se aproximava, era possível notar sua pele branca gélida, como se o sangue já não circulasse, formando uma poça densa dentro de seu corpo. Suas pupilas estavam dilatadas a ponto de não ser possível distinguir sua íris, não passavam mensagem alguma, apenas fixação em meus olhos, que, por sua vez não piscavam já entregues. Sua boca estava aberta e, entre um passo e outro, era possível escutar sua respiração, que soava sempre como um último sopro de vida.
Luiz Vassallo

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